A pandemia de Covid-19 acelerou uma tendência em ascensão: os nômades digitais. Pessoas que tinham todo o seu trabalho ao alcance de um notebook com acesso à internet deixaram de se conformar com os limites do escritório, ou mesmo da sua casa, e foram em busca de experiências novas em outras cidades ou países, sem deixar de trabalhar.
A liberdade de ir para onde quiser, quando quiser, ser mais dono de seu tempo, alternar com flexibilidade entre o trabalho e o turismo e enriquecer sua vida com experiências pessoais e profissionais são algumas das vantagens do nomadismo digital segundo Canaltech.
O nômade digital é aquele que está em constante movimento e oferece seus serviços online. “O nomadismo digital ensina a ter respeito por você mesmo, a não negligenciar o que te faz bem e a olhar para dentro, porque essa é a única maneira de ser feliz e levar uma vida com propósito”, dissem no Facebook os Nômades digitais.
Segundo uma estimativa do site Nomad Life, haverá cerca de 1 bilhão de trabalhadores nômades até 2035 e no Brasil o governo já abriu as portas para os nômadas, mas, nem tudo é cor de rosas
Desafios: Infraestrutura
O site oficial da Rio Digital Nomads traz informações sobre a infraestrutura de turismo da cidade voltada a este público. Até agora, já cadastrou 56 hotéis, 14 hostels e 18 espaços de coworking.
A intenção é tornar-se uma cidade referência para os nômades, e cita como exemplos a serem seguidos: Berlim (Alemanha) e Lisboa (Portugal).
“A relação das pessoas com o trabalho mudou em todo o planeta, permitindo que muitos decidam em qual cidade viver, independentemente de onde funciona a sua empresa. (…) Esses tempos modernos permitem a experiência de se viver onde se deseja. Estamos oferecendo essa cidade incrível que é o Rio a todos que queiram viver como um carioca. Seja por um mês ou por vários”, afirmou a presidente da Riotur, Daniela Maia, no comunicado à imprensa.
A aposta do Rio se mostra alinhada com a tendencia mundial. Segundo um levantamento da MBO Partners, o número de nômades digitais nos Estados Unidos cresceu de 7,3 milhões em 2019 para 10,9 milhões em 2020 – um aumento de 49%. Países como Costa Rica, Bahamas, México e Alemanha já experimentam leis mais flexíveis e até vistos para nômades digitais.
Situação migratória
Nesta semana, o Conselho Nacional de Imigração, do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil regulamentou a concessão de visto temporário e autorização de residência a imigrante que, sem vínculo empregatício no país e fazendo uso de tecnologias da informação, possa a executar trabalhos para empregadores estrangeiros.
A medida, publicada nesta segunda-feira (24) de janeiro no Diário Oficial da União, estabelece prazo inicial de um ano de residência, que poderá ser renovado por igual período.
Para o secretário nacional de Justiça e presidente do colegiado, José Vicente Santini, a regulamentação atende tendência mundial e contribui, inclusive, com o setor de turismo.
“A remuneração dos nômades digitais é de origem externa, e os recursos trazidos por esses imigrantes movimentam a economia nacional. Esse é um passo importante para que o Brasil promova um dos modelos mais modernos de trabalho”, afirmou.
O visto temporário deverá ser requerido em qualquer repartição consular brasileira no exterior, com a apresentação dos documentos previstos na resolução, como seguro saúde válido no território nacional e a comprovação de condição de nômade digital.
O imigrante que se encontre em território nacional poderá apresentar pedido de autorização de residência ao Ministério da Justiça pelo Sistema MigranteWeb.
Em ambos os casos, a comprovação da condição de nômade digital deverá ser feita com a apresentação de contrato de trabalho ou de prestação de serviços, entre outros documentos que demonstrem vínculo com empregador estrangeiro.
Além disso, é necessário comprovar meios de subsistência no Brasil.
Como entrar nessa?
Matheus de Souza, autor de “Nômade Digital: um Guia para Você Viver e Trabalhar Como e Onde Quiser”, trabalhava como assistente de marketing e em 2015, perguntou aos gestores sobre a possibilidade de fazer home office. Após ouvir uma negativa, virou freelancer nas horas vagas para juntar dinheiro, demitiu-se em 2017 e meses depois, fez a primeira viagem como nômade para o México.
Para se tornar um andarilho remunerado, diz ele ao Canaltech, é preciso se ocupar com um trabalho que possa ser feito remotamente, um passaporte, uma passagem aérea e um lugar para ficar.
Sobre o dinheiro para começar, ele diz que depende de quanto perrengue você quer passar. “Eu ganhava em torno de R$ 4 mil quando me tornei nômade e me virava como dava”.
O equipamento precisa aguentar o tranco também. Primeiro, o computador deve ser potente e leve. Também é preciso um bom celular, e ela ainda tem um roteador Mi-Fi, aparelho móvel que a conecta em qualquer lugar do mundo com sinal 3G, tirando dela a dependência de redes Wi-Fi locais. E claro, use e abuse de serviços em nuvem, do Google Docs ao Dropbox.
Vantagens: Trabalhar de qualquer lugar
Esse é o primeiro e mais óbvio dos benefícios: não importa se você está na praia ou no campo, em Paris ou no Amazonas, em uma casa ou em um restaurante, é possível fazer seu trabalho. Você pode seguir uma carreira sem se trancar em um escritório oito horas por dia, e ainda realizar seus sonhos de viajante.
Trabalhar a qualquer hora
Do mesmo modo, você não vai ter mais horários para seguir quando optar por esse estilo de vida. Prefere trabalhar tarde da noite? Então, não precisa mais acordar às seis. Você faz seus próprios horários e pode se programar como preferir.
Buscar a satisfação pessoal
Em um emprego comum, é normal que os funcionários se sintam esgotados e sem motivação em ambientes que não os estimulam e em que, muitas vezes, não fazem o que amam. Ser um nômade digital dá mais espaço para fazer o que se gosta, e isso influencia muito na felicidade do indivíduo.
Desenvolver sua criatividade
Conhecer novos lugares, falar com pessoas diferentes, fazer novos amigos, ver novas paisagens, são todas maneiras de desenvolver sua criatividade. Os nômades digitais mantêm um contato mais próximo e observador com o mundo ao seu redor, e isso muda a maneira como eles enxergam tudo.
Ter benefícios financeiros
Apesar de que poucos nômades digitais são, de fato, ricos, é possível ter uma vida confortável com a renda ganha nesses trabalhos online. Você tem controle sobre o quanto vai ganhar, porque sabe o quanto cobra por cada trabalho, e pode aumentar esse valor enquanto for ganhando experiência. Além disso, optando por viver em lugares mais baratos, é possível economizar e aproveitar a vida.
Veio para ficar?
Como estamos hoje, ainda há uma estrada longa para transformar o trabalho remoto – e por tabela o nomadismo digital – em algo simples para todos. Normalmente alguns setores estão mais propensos ao teletrabalho, como criativos (redatores, designers, ilustradores, editores e do audiovisual), programadores e certos gestores.
Já outros nem tanto. Mas o futuro é animador. “A tendência é as empresas irem se adaptando. Vivemos em uma era onde é perigoso permanecer como está: ou você acompanha o mercado e traz inovações ou pode ter como consequência um atraso e até mesmo um retrocesso nos resultados. A tecnologia é capaz de possibilitar e unir a produtividade com qualidade de vida”, diz André Sena, da Accor.