Dia da Mulher nasceu com luta por pão e paz das trabalhadoras russas

O Dia Internacional da Mulher é celebrado de diferentes maneiras mundo afora. Em alguns países é feriado nacional, como na França, Rússia e Nepal. No Brasil, o apelo comercial para a entrega de flores e chocolates divide espaço com marchas e protestos organizados por movimentos sociais.

A data tem origem em uma manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, durante a greve iniciada no dia 23 de fevereiro de 1917, na Rússia, por pão e paz. Esse movimento foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa.

Manifestação de mulheres russas em 8 de março de 1917, em São Petersburgo. Foto: domínio público. Foto: Internet

Quais as raízes históricas do Dia Internacional da Mulher?

Embora seja popularmente associada à morte de trabalhadoras durante um incêndio em uma tecelagem nos Estados Unidos, em 1911, a escolha do dia 8 de março para essa data global se deve a acontecimentos em território russo.

Conforme a professora Cristina Scheibe Wolff, pesquisadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a proposta de uma data que simbolizasse a luta pela igualdade das mulheres partiu da socialista alemã Clara Zetkin, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas., divulgou o Vol.

Clara Zetkin sugeriu a criação do Dia Internacional das Mulheres em 1910. Foto: Corbis/Hulton Deutsch

O evento foi realizado em 1910, em Copenhagen, na Dinamarca. “Clara, até então, não tinha falado em uma data específica. Ela fez a proposta e isso foi aceito no Congresso”, conta Cristina. Na época, as jornadas nas fábricas alcançavam 14 horas por dia, incluindo domingos, e envolviam, além dos homens, mulheres e crianças.

“Muitas mulheres tinham jornadas penosas e era comum que houvesse reivindicações por melhores condições de trabalho, além do direito ao voto”, pontua pesquisadora.

A data só foi formalizada após uma greve em meio à guerra em 1917, quando as mulheres russas exigiram “pão e paz” — e quatro dias após a greve o czar foi forçado a abdicar, e o governo provisório concedeu às mulheres o direito ao voto.

A greve das mulheres começou em 23 de fevereiro, pelo calendário juliano, utilizado na Rússia na época. Este dia corresponde a 8 de março no calendário gregoriano — e é quando é comemorado hoje.

Esse cenário de exploração levou a manifestações em diversas partes do mundo.

O protesto aconteceu em 8 de março de 1917 e teria sido o estopim da Revolução Russa. Foto: Internet

Qual a relação do famoso incêndio  em Nova York com a data?

De fato, acrescenta Cristina, houve mesmo um incêndio que vitimou mais de 125 mulheres, com idade entre 13 e 23 anos, na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York, em 1911.

A jornada de trabalho dessas mulheres era entre 12 e 14 horas por dia e o salário era de 6 a 10 dólares por semana, além das moças serem, em sia maioria imigrantes.

No entanto, isso ocorreu dentro do contexto de mobilizações protagonizadas pelas operárias, não sendo considerado o fato que desencadeou a criação do Dia Internacional da Mulher.

“E isso também não ocorreu em 8 de março, mas no dia 25 de março”, reforça a professora.

Foi apenas em 1975 que o Dia Internacional da Mulher foi adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data é considerada pelo movimento feminista como um dia de luta por direitos.

No dia 25 de março de 1911, num contexto de várias greves e de intensa luta operária nos Estados Unidos, ocorre um incêndio na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist, que acaba matando entre 125 e 150 trabalhadores a maioria mulheres. Foto: Brown Brothers

Por que o Dia Internacional da Mulher é importante?

Testemunhamos um retrocesso significativo na luta global pelos direitos das mulheres no ano passado. O ressurgimento do Talebã em agosto mudou a vida de milhões de mulheres afegãs — meninas foram banidas do ensino médio, o Ministério para Assuntos da Mulher no país foi dissolvido e muitas mulheres foram instruídas a não voltar ao trabalho publicou a BBC News Brasil.

No Reino Unido, o assassinato de Sarah Everard por um policial em serviço reacendeu os debates sobre a segurança feminina.

A pandemia de covid-19 também continua a ter impacto nos direitos das mulheres. De acordo com o Global Gender Gap Report 2021 do Fórum Econômico Mundial, o tempo necessário para acabar com a disparidade global de gênero aumentou em uma geração, de 99,5 anos para 135,6 anos.

Um estudo de 2021 da ONU Mulheres com base em 13 países mostrou que quase 1 em cada 2 mulheres (45%) relatou que ela própria ou uma mulher que conhecem sofreram alguma forma de violência durante a pandemia.

Isso inclui o abuso que não é físico, sendo o abuso verbal e a negação de recursos básicos os mais comuns relatados.

No México, grupos de mulheres transformaram grades de metal, erguidas para proteger o Palácio Nacional, em um memorial improvisado para as vítimas de feminicídios.

Em paralelo, mulheres na Polônia realizaram protestos em todo o país após a introdução de uma proibição quase total do aborto em janeiro de 2021.

Ativistas do direito ao aborto celebraram a descriminalização do aborto na Colômbia até 24 semanas de gravidez

Manifestantes que apoiam o Dia Internacional da Mulher protestam em frente à Embaixada da Rússia em Berlim, em 8 de março de 2022. Foto: Maja Hitij/Getty Images

Atualmente são diferentes mobilizações que buscam chamar atenção do público para a luta contra a desigualdade de direitos, a violência contra a mulher, e a demanda por direitos trabalhistas e reprodutivos.

Nesta vez, além de demandas contra a violência de gênero, as mulheres  também pediram conscientização sobre a situação das mulheres ucranianas e o fim da guerra.

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