Entre os 50 finalistas do Chegg.org Global Student Prize 2022, uma premiação que seleciona os “melhores estudantes do mundo”, promovida pela Varkey Foundation estão um brasileiro e um venezuelano.
Com apenas 18 anos, o brasileiro Lucas Tejedor, estudante do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ), entrou na lista.
Também, David Caiafa, estudante de 23 anos de Carabobo, Venezuela, atualmente cursando o bacharelado em Ciência da Computação com ênfase em Inteligência Artificial (IA) na Universidade de Londres, com bolsa “Váradi”. Além disso, ainda estuda psicologia clínica na Universidad Arturo Michelena, Venezuela, faz parte do ranking.
Lucas e David ainda concorrem a uma gratificação de U$ 100 mil. Os jovens foram selecionados entre quase 7 mil nomeações e candidaturas de 150 países.
O e-mail com o resultado da etapa chegou na última sexta-feira (22) e surpreendeu os jovens.
A Varkey Foundation fez parceria com a Chegg.org para lançar o World Student Award (WSA) no ano passado para criar uma plataforma poderosa para destacar os esforços de estudantes extraordinários de todo o mundo que, juntos, estão remodelando o mundo para melhor.
Os alunos são avaliados por seu desempenho acadêmico, impacto em seus colegas, como fazem a diferença em sua comunidade e além, como superam as probabilidades de alcançar, como demonstram criatividade e inovação e como agem como cidadãos globais.
Criança curiosa
Mesmo conhecendo o potencial dos projetos inscritos, Lucas não espera avançar tanto na premiação, ficando entre os 50 melhores estudantes do mundo.
“Foi sensacional. Eu não esperava, mesmo dando o meu máximo nos projetos. Fiquei maravilhado, meu coração ficou muito acelerado quando recebi a notícia”, conta Lucas, morador de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Segundo ele, o interesse por desenvolver projetos capazes de solucionar problemas sempre fez parte “da sua veia pulsante de fazer acontecer”. Quando criança gostava muito de se sentar junto ao avô e assistir a documentários sobre vida animal, ciências e história.
Para Lucas, esses momentos foram o início de sua vontade em querer estudar e saber mais sobre as coisas. Ele conta que, ao se deparar com um assunto que despertasse seu interesse, pedia sempre ao avô para contar mais a respeito e, assim, ia aprendendo fatos novos e diferentes.
Aos 12, Lucas abriu uma empresa no nome da avó para se capacitar em cursos oferecidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Desde então, Lucas começou a oferecer consultorias a empresas do bairro. “Eu levava meus diplomas porque ninguém daria ouvidos a uma criança. Aprendi muitas coisas na prática, como contabilidade básica, organizar galpões, entre outras coisas. Valorizo muito essa época”, descreve.
“Coisa de família”
A determinação na busca por mudanças é “coisa de família”, diz Lucas. Segundo ele, o avô, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), enxergou nos estudos uma oportunidade para melhorar suas condições de vida.
Ao lado da esposa, nordestina que morava em casa de sapê, fincou raízes no Rio de Janeiro e proporcionou conforto para toda família com muito afinco no trabalho. Além disso, os pais do estudante estudaram em escolas públicas. Lucas conta, ainda, que se orgulha da trajetória da família e reconhece que, hoje, tem muito mais privilégios.
Mesmo estudando em escola particular, por meio de bolsa, ele afirma que não estava satisfeito com o ensino “engessado” que, segundo ele, apenas ensinava para aprovar nos vestibulares. Mas o sentimento de buscar algo a mais incentivou Lucas a fazer a prova para o Cefet-RJ, onde estuda atualmente o ensino médio-técnico de informática.
Variedade de projetos
“Eu não perco muito tempo, sabe? Estou sempre fazendo alguma coisa. Se estou no trem duas horas e meia, estou estudando, respondendo perguntas do vestibular. Se estou em casa almoçando, vejo um vídeo sobre algum tipo de conhecimento. No meu tempo de lazer eu vejo um filme que vai me acrescentar de forma pessoal. Sempre encontro alguma forma de crescer em qualquer coisa que eu esteja fazendo.”
Lucas tem trabalhado em uma variedade de projetos, apesar da pouca idade. Durante a pandemia, desenvolveu um aplicativo para o Cefet-RJ para alertar as pessoas sobre locais adequados para reciclagem de lixo eletrônico, uma vez que o Brasil tem uma das taxas mais altas deste problema no mundo.
Além disso, criou uma inteligência artificial capaz de detectar incêndios florestais por meio de imagens, que lhe garantiu o primeiro lugar na exposição do Cefet-RJ, segundo maior concurso científico do estado.
Em parceria com a organização Casa de Cáritas, fundou, ainda, o Ubuntu, plataforma que visa excluir barreiras de contatar diferentes organizações sem fins lucrativos no Brasil. Com esse projeto, foi finalista no prêmio Comunidade Prudencial.
Seguindo seu objetivo de vida, impactar a vida das pessoas por meio de projetos e ações que solucionem problemas, Lucas valoriza a educação pública.
“Eu só consegui estar aqui por conta do governo. O Estado é uma peça fundamental no desenvolvimento, mesmo não funcionando sempre”, diz.
O que dizer do futuro
Com a formatura no ensino médio e técnico marcada para este ano, o estudante tem planos claros para o futuro. Mesmo sendo apaixonado por programação, o sonho do jovem é cursar direito para ajudar a sociedade por meio das leis.
O dilema da vez é se continua no Brasil para prestar vestibular e ingressar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ou tentar uma vaga em alguma instituição no exterior.
Futuramente, Lucas pretende desenvolver e incluir políticas públicas de melhor qualidade, com baixo custo para o governo, mas com alto resultado para a população tanto brasileira quanto de outros países.
“Eu sei que é uma missão difícil, mas quero tentar retribuir tudo o que eu recebi para a sociedade”, afirma, confessando que se vencer a Global Student Prize 2022 vai utilizar os U$ 100 mil para investir em projetos atuais, de acordo com ele, capazes de atingir níveis de excelência, auxiliar ONGs, em especial a Ubuntu e Casa da Cáritas, projetos alinhados às causas que defende, além de criar uma startup de consultoria privada.
A saúde mental é prioridade
O venezuelano David Caiafa tem o sonho de ajudar as pessoas a atingirem todo o seu potencial, promovendo uma sociedade mais calma, na qual os serviços de saúde mental sejam mais acessíveis e globais, ao mesmo tempo em que se constrói um mundo melhor.
Interessado em psicologia e ciência da computação desde os 6 anos de idade, essas duas disciplinas permitem que David desenvolva um projeto de inteligência emocional (IA) e saúde mental que pode ter um enorme impacto na sociedade.
País volátil, universidade fechada
As notas excelentes de David no ensino médio o ajudaram a garantir uma vaga na Universidade de Carabobo com apenas 16 anos.
Mas, devido à situação volátil na Venezuela, a universidade fechou por um período e não teve recursos financeiros para pagar uma universidade privada.
Aos 18 anos, viajou ao México para prestar o vestibular para a Universidade Nacional Autônoma do México graças à ajuda de uma tia que morava naquele país, mas teve que retornar à Venezuela, pois seu pai e sua mãe estavam em condições muito precárias e seus irmãos mais novos não podiam trabalhar para ajudá-los.
Foram meses extremamente difíceis, em que a família mal tinha o que comer, não podia comprar itens básicos de higiene e saúde e em que o serviço de água e luz era inconsistente, na melhor das hipóteses.
Mas David não desistiu, continuando a aprender através de cursos on-line e estudos independentes.
Em 2020, foi o vencedor da Bolsa Váradi para estudar à distância na Universidade de Londres, onde ficaram impressionados com sua ideia de implementar a inteligência artificial junto com a psicologia.
A ideia de David
O projeto de David consiste em implementar a inteligência artificial em conjunto com a psicologia para criar um algoritmo de identificação de estados mentais alterados em tempo real, o que auxilia na detecção precoce ou oportuna de diversos distúrbios.
Para isso, seriam medidas variáveis importantes em tempo real, como linguagem corporal, frequência cardíaca, temperatura corporal e, se possível, ondas cerebrais, com todos esses dados obtidos por meio de visão artificial e outros sensores; processados e analisados pela IA que, por sua vez, repassa esses dados para equipes dedicadas de saúde e segurança mental, que podem intervir se necessário.
O jovem venezuelano acredita que este projeto pode ser aplicado em escolas, aeroportos, parques ou em qualquer lugar onde seja benéfico manter uma saúde mental ótima e estável, tanto individual quanto coletivamente.
Em seu tempo livre, David ensina seus colegas e promove habilidades de debate e oratória, habilidades que ele desenvolveu na escola primária que ele acredita serem algumas das melhores maneiras de causar impacto e gerar novas ideias.
Embora tenha superado o bullying no ensino fundamental e médio, o colapso social na Venezuela o afetou muito quando ele começou a faculdade.
Conheça os 50 melhores estudantes do mundo
Os nomes dos dez selecionados serão divulgados em agosto. O vencedor da premiação leva para casa um prêmio de 100 mil dólares.
Com informação do Global Teacher Prize