Natal na Venezuela é uma festa culinária. A mediados de novembro as mulheres batem perna em supermercados e feiras, na procura dos ingredientes, para comparar preços e qualidades dos produtos.
Para nós venezuelanos dezembro tem aquele cheirinho especial de “Hallaca”. Ela é a estrela das festas de Natal e o Réveillon. Além da árvore, do Papai Noel e do presépio, em todos os lares, seja humilde ou chique, está presente. É o pratô típico destas comemorações.
A hallaca é tipo uma pamonha porque seu corpo é uma massa de milho. Mas, a massa é temperadinha com caldo de frango e pigmentada com pápicra.
Depois vem o recheio: uma mistura dos deuses! Carne de boi e porco, vinho tinto, rapadura de açúcar, cheiro-verde, alcaparras, páprica, cebola, cebolinha, pimenta, cominho e pimentão.
Bom, essa é a receita que rola na minha família. É daquelas que tem um sabor especial!
Logo após o preparo da massa, é hora de rechear. Além disso, adicionamos azeitonas, passas e cebola para dar um toque especial.
Em seguida, a mistura é envolvida em uma forma retangular, com folhas de bananeira, e cuidadosamente amarrada com barbante para, então, ser fervida em uma enorme panela com água
A mágica do preparo
O ritual de preparo é o momento mais marcante da Hallaca e é isso que mais nos faz sentir saudades, especialmente nós, imigrantes que estamos distantes da família.
A tradição sempre ditou que a família se reunisse para prepará-la, cada um assumindo uma parte do processo de forma natural.
Entre uma etapa e outra da preparação, rola um bate-papo animado, risadas e, é claro, um vinho ou cerveja para acompanhar. É pura animação, uma verdadeira celebração gastronômica. E enquanto as gargalhadas ecoam, a Gaita, essa música típica de Natal no meu país, dá o tom. Às vezes, até rolam umas danças e cantorias no meio do processo.
É simplesmente incrível! É um encontro cheio de alegria, onde a vibe do Natal está no ar, porque todos na família se juntam e colocam a mão na massa.
A avó, que é tipo a mestra dessa arte, junto com as filhas e netas, se reúnem para preparar essa maravilha. Alguns cortam as carnes e os vegetais, outros cuidam das folhas de bananeira, lavando e secando, e ainda tem os especialistas em amarrar.
É uma verdadeira festa culinária com a energia contagiante da família reunida.
Apesar de ser um trabalho principalmente liderado pelas mulheres, atualmente os homens também entram de cabeça.
Com meus filhos, já fizemos a incrível jornada de preparar Hallacas cinco vezes no Brasil. Depois de toda essa experiência, ficamos cansados, porém radiantes!
É simplesmente indescritível a alegria que sentimos. Poder manter viva nossa tradição natalina longe de casa é incrível!
É como um pedacinho do nosso lar e das nossas raízes que trazemos para perto, ajudando a aplacar a saudade. É um verdadeiro banquete de emoções.
Origem na colonização
Mas saiba que a história das hallacas começa na época da colonização espanhola. Os índios, que se tornaram escravos, pegavam as sobras da comida dos espanhóis, misturavam com uma massa, que na época era de trigo, e envolviam em folha de bananeira. E assim foi evoluindo, contam as avós.
Na hora de comer, basta cortar o barbante e abrir as folhas de bananeira.
Geralmente a hallaca é acompanhada com salada de galinha, porco e pão de presunto.
Nós venezuelanos somos apaixonados por combinar sabores salgados e doces, e nas nossas comidas, é justamente esse contraste que torna a Hallaca tão deliciosa para o nosso paladar.