Carnaval: a festa da diversidade e inclusão

Foi dada a largada para o carnaval. Conhecido também como a maior festa popular brasileira, o carnaval se transformou num dos espaços importantes de diversidade e inclusão a partir da ressignificação que sofreu ao longo das décadas.

“O carnaval não é uma festa brasileira, tem origem europeia. Mas foi ressignificada no Brasil com a influência dos povos da diáspora africana e dos povos originários”, explica Tadeu Kaçula, sambista, sociólogo e escritor.

O carnaval no Brasil tem suas raízes históricas no período colonial, tornando-se uma lucrativa atividade comercial no século XX. O entrudo era praticado pelos escravos. Estes saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas.

Além de uma festa, o carnaval é hoje um espaço importante de diversidade e de sociabilidade política e econômica.

“É um dos poucos espaços democráticos que a gente consegue ver a diversidade. É um espaço de acolhimento e de sociabilidade. É um dos poucos momentos, num país tão tenso, relacionado a classe, raça e gênero que essas questões vão se apaziguando e se torna um espaço de acolhimento e que, torna de fato, nossa sociedade muito mais plural, mais acolhedora e igualitária”, reforça o sociólogo.

O Carnaval transformou-se na principal festa popular brasileira a partir da década de 1930 e, atualmente, conta com os blocos de rua que acontecem nos grandes centros do país, assim como os desfiles das escolas de samba.

 Blocos de rua

Os primeiros blocos carnavalescos e cordões foram totalmente organizado pelo povo, que desfilava pelas ruas com carros decorados ao estilo de uma grande e animada procissão, carregada de manifestações populares. Isso foi o início do movimento que hoje se conhece como blocos de rua.

 Atualmente os movimento de diversidade e inclusão podem ser visto nas mais diversas manifestações carnavalescas pelo país, como nos desfiles dos blocos de rua.

“Na rua todo mundo é igual e você conhece as pessoas, não as categorias. Humanizar cada pessoa e não a reduzir a sua sexualidade, cor, raça… Neste momento, as barreiras diminuem e o sonho é que num próximo contato, quando você estiver exposto às diferenças, você se lembre daquela pessoa legal que conheceu, do amigo que fez e que isso alimente a tolerância. Que ganhemos aliados”, reforça Nathalia Takenobu, produtora e DJ do bloco Agrada Gregos, o maior bloco LGBTQIAP+ do Brasil que desfila pelas ruas do carnaval paulistano.

Carnal de rua em São Paulo

Na capital amazonense não fica de fora. O espírito momesco tomou conta dos quatro cantos de Manaus, na expectativa do carnaval. Entre o último sábado e o domingo, 11 e 12, a cidade foi palco de diversas bandas, blocos e festas de rua, com uma movimentação de mais de 200 mil foliões, servindo de “esquenta” para a abertura oficial do Carnaval 2023.

A programação, voltada para todos os gostos, gêneros e públicos, promete movimentar a cidade até o dia 25 de março, com as 109 bandas

Carnaval de rua em Manaus

Escolas de samba: espaços de luta, resistência e pertencimento

As escolas de samba têm a sua origem na criação de espaços de luta e resistência. Espaços de sociabilidade da população preta, criada no pós-abolição.

“Disso, surgiram os cordões, os primeiros folguedos pelo país. Essas dimensões sagradas de resistência negra e os grupos carnavalescos foram criados como espaço de preservação, de resistência, de sociabilidade onde essas famílias se encontravam e se aquilombavam para manter a sua cultura, história e origens”, conta Kaçula.

“Era onde os nossos mais velhos – os nossos ‘griôs’ usavam como importante espaço político e através do samba contavam a verdadeira história do Brasil, a história negada”, complementa o sociólogo.

Segundo Tadeu Kaçula, o carnaval foi ressignificado, mas ainda hoje é um espaço de resistência e muitas escolas de samba tem retomado algumas narrativas de pertencimento e recuperando parte importante e significativa do papel social e político das escolas de samba.

 A inclusão da comunidade LGBTQIAP+, hoje fortemente reforçada por alguns blocos de rua também, está presente há mais tempo no carnaval.

“Sempre houve a inclusão da população LGBTQIAP+. Ela sempre esteve presente e respeitada. Num momento em que não era “aceitável”, eles já se sentiam e se sentem acolhidos e acolhidas nos espaços das escolas de samba. A escola de samba é uma escola de vida que faz com que a sociedade repense como é importante trabalhar com a perspectiva do respeito”, explica o sociólogo Tadeu Kaçula.

Tema racial ganha protagonismo

Em São Paulo, por exemplo, algumas escolas trarão o tema racial como enredo no carnaval deste ano.

É o caso da Sociedade Rosas de Ouro que vai falar sobre o histórico de lutas e resistência do povo negro no enredo ‘Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome’.

A escola vai exaltar a luta, a força e as conquistas do povo negro através dos tempos, desde seus ancestrais escravizados até os dias atuais, chamando atenção para a igualdade e o respeito.

“Nos últimos anos, vimos um aumento considerável na divulgação dos casos de racismo em todo mundo. Aliado a isso, tivemos uma tentativa de apagamento de figuras históricas do movimento negro e a contestação de políticas raciais por parte do nosso último governo federal. Isso nos motivou a atingir o ponto fraco e levar esse enredo para a pista”, conta a presidente da escola, Angelina Basílio.

Escola de samba Grande Rio campeâ Carnaval 2022 RJ

A escola promete que atingirá o ponto fraco, e mostrará não só o lado cruel da história, mas sim, as grandes conquistas do povo negro ao longo dos tempos, sua imponência, seu legado e sua ancestralidade.

Para a escola, trazer a diversidade para o centro do discurso é muito importante já que, segundo a Rosas de Ouro, o carnaval é o lugar onde as pessoas podem ser o que elas querem, livres de preconceitos ou taxações da sociedade. Isso é fundamental para a própria existência da festa.

“A palavra resistência é que melhor nos define nos dias de hoje, pois lutamos para seguir levando ao mundo essa arte criada por negros e que acolhe todas as pessoas. Os bastidores de uma escola de samba, por exemplo, é um ambiente de diversidade e pluralidade, já que damos espaço e oportunidade para todos nos mais diferentes setores da escola. É um local de acolhimento para muitas pessoas que não conseguem, por exemplo, se realocar no mercado de trabalho”, explica a presidente.

História, tradições e cultura 

Outra escola paulistana que também vai cantar a diversidade é a Império de Casa Verde que falará sobre ancestralidade, identidade cultural e construção através dos batuques com o enredo “Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical”.

A escola da zona norte paulistana trata sobre influência dos batuques e tambores africanos na religião, tradição, cultura e musicalidade trazidos da África para o Brasil.

“Há quase 20 anos, o Império não tinha uma temática afro. Optamos por algo que fugisse do lugar comum – da religião, do sofrimento da escravidão e optamos por algo mais musical. Juntamos todos os ritmos que vieram da África e aportaram no Brasil. Afinal, a conexão africana está sempre presente na música brasileira. Nos ritmos hoje mais modernos, como funk, charme. São ritmos da periferia, majoritariamente negra”, explica Rogério Figueira, Diretor de Carnaval da escola.

“Nosso enredo retrata um pouco da identidade de todo povo brasileiro. Negros ou não negros, temos algo da cultura negra em nossa identidade. Mesmo em cenários onde o negro não está presente, a cultura negra está. É o resgate da identidade brasileira”.

Diversidade, inclusão e espaços de acolhimento estão presentes também em outros espaços importantes da folia, como nos camarotes.

Um grito e uma alegria que devem tomar as ruas de todo país nos próximos dias, depois de dois anos sem a folia mais esperada do ano, que é o carnaval.

As 14 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval de São Paulo desfilarão no Sambódromo do Anhembi

Dezessete escolas de samba dos grupos “A”, “B” e Especial participarão do Desfile Oficial das Escolas de Samba do Carnaval de Manaus 2023 até a madrugada de domingo (18/02).

Os desfiles das agremiações do Grupo de Acesso “A” estão programados para esta sexta-feira, 17/2, das 21h às 4h20 de sábado, 18/2. E a noite mais disputada, a do desfile das escolas de samba do Grupo Especial, iniciará às 20h de sábado, 18/2, com encerramento previsto para as 6h de domingo, 19/2.

Carnaval 2023: Primeira noite do Desfile Oficial das Escolas de Samba de Manaus

Com informação da CNN Brasil

Vídeo: Canal VOL

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