O tráfico de animais silvestres é um assunto sério e que movimenta uma grande quantidade de dinheiro, de forma ilegal, em todo o mundo. De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF – ONG) que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental –, o tráfico de animais movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano no mundo.
Essa atividade ilícita perde, em lucratividade, apenas para o tráfico de drogas e armas.
O caso do influenciador digital que fez sucesso publicando imagens com uma capivara e outros animais silvestres chama a atenção para o impacto da ação no estímulo ao tráfico de animais.
O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Cabral, diz que publicações como essas dão a impressão de que é uma atitude normal. Assim outras pessoas vão se interessar em levar animais silvestres para casa. E isso aumenta a demanda pelo tráfico.
O analista defende uma mudança do pensamento da sociedade sobre o assunto e que pare de normalizar a retirada de um animal da natureza para levar ao cativeiro.
O pedido é para que as pessoas não comprem animais silvestres com o objetivo de mantê-los em casa, o melhor é dar prioridade para animais domesticáveis que necessitam de um lar.
De acordo com a Lei n° 5.197, de 03 de janeiro de 1967, que dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências, “animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.” Isso significa que, por lei, é proibido utilizar, perseguir, caçar ou apanhar as espécies silvestres na natureza.
O comércio legal, no entanto, é permitido.
Enfim, o que é um animal silvestre?
Animais silvestres são aqueles que não passaram pelo processo de domesticação, ou seja, são animais que ainda não estão acostumados com a convivência com seres humanos, bem como também não estão adaptados às condições de cativeiro.
Esses animais podem ter comportamentos agressivos quando capturados e, ao serem colocados em cativeiro, podem não se desenvolver e reproduzir de maneira adequada. Isso significa que animais silvestres não conseguem viver com os seres humanos da mesma forma que os domesticados.
Animais silvestres são os passarinhos, papagaios, corujas, cobras, jabutis, sapos, peixes, macacos, tamanduás, onças e tantos outros que vivem na natureza ou foram retirados da natureza a poucas gerações.
Alguns animais silvestres são mantidos em ambiente doméstico, mas essa prática, ainda tão comum no país, deve ser combatida. Isso porque esses animais possuem funções ecológicas em seus ambientes naturais e, ao serem retirados da natureza para serem explorados como animais de estimação, acabam suprimindo seus comportamentos e instintos naturais.
Um animal silvestre é também um animal selvagem – definido como aquele que vive em seu habitat natural, não é domesticado e reage se distanciando ou fugindo das pessoas.
Alguns ainda podem apresentar comportamento agressivo e dificuldade de viver em contato com humanos.
Resgates
Roberto Cabral diz que o Ibama resgata, em média, entre 45 mil e 60 mil animais ao ano. Boa parte deles consegue voltar à natureza, mas alguns não conseguem ser reintroduzidos porque ficam machucados ou perdem o comportamento natural.
O analista do Ibama explica que um animal nascido na natureza não pode ser regularizado. Então, o correto é levá-lo a um dos centros de triagem do órgão para que seja tratado e reintroduzido no hábitat natural.
Tráfico prejudica ecosistema e saúde humana
O Brasil destaca-se no comércio ilegal de animais silvestres, uma vez que contamos com uma grande biodiversidade animal, que é extremamente visada. De acordo com a Renctas (outra ONG que luta pela conservação da biodiversidade).
Podemos dividir o tráfico ilegal da fauna silvestre em dois grandes grupos:
-O tráfico interno e
-O trágico internacional.
Acredita-se que 30% dos animais silvestres comercializados no Brasil sejam ilegais, o que coloca o Ibama na posição alertar a população.
O tráfico de animais além de prejudicar o ecossistema também pode prejudicar a saúde humana, pois muitos animais silvestres são hospedeiros de vírus que causam doenças em humanos como a febre amarela, leischmaniose e toxoplasmose.
O tráfico de animais tem diferentes objetivos, como a venda para colecionadores, comercialização em “pet shops” e, até mesmo, fins científicos.
Fato é que, independentemente do destino que será dado a esses animais, esses normalmente passam por uma série de práticas prejudiciais.
Muitas vezes esses animais ficam muito tempo sem se alimentar, são dopados, aves têm suas asas mutiladas, garras de algumas espécies são cortadas, muitos pássaros têm seus olhos furados para que não percebam a luz do sol e não cantem, entre várias outras práticas danosas.