Plástico não é o único culpado da poluição marinha

Desde sua criação, o plástico revolucionou a indústria e se tornou um material fundamental no dia a dia das pessoas. No entanto, seu uso excessivo e descarte inadequado tem causado discussões, com o material frequentemente apontado como o grande vilão da poluição marinha.

Existem diversos fatores envolvidos na poluição dos oceanos, e é importante entender que o plástico não é o único culpado. De acordo com Rica Mello, líder da Câmara de Descartáveis e fundador do projeto Plástico Amigo, existem outras razões para a poluição encontrada nos oceanos.

“A cultura de descarte inadequada e a falta de responsabilidade na produção e consumo de plástico persistem na sociedade, causando consequências inimagináveis no meio ambiente. O verdadeiro vilão nessa história é a falta de consciência e incentivos para uma produção e consumo mais responsáveis”, relata.

Reutilizaçã e reciclagem

Segundo o especialista, para lidar com o consumo do plástico é necessário adotar uma abordagem de reutilização e reciclagem. “A reutilização é incentivada com a produção e utilização de produtos duráveis e de segunda mão, além da adoção de sistemas de logística reversa. A reciclagem, por sua vez, pode ser incentivada com educação e campanhas de conscientização, incluindo incentivos financeiros e políticas públicas que promovam esse ato”, declara.

Pequenas ações realizadas por governos e organizações podem fazer com que a reciclagem se torne mais comum no cotidiano das pessoas. “É possível alcançar esse efeito com pequenos atos, como a instalação de lixeiras de coleta seletiva em locais públicos, a criação de incentivos fiscais para empresas que adotem práticas sustentáveis, além, é claro, da promoção de campanhas de conscientização sobre o consumo responsável. Existem diversos movimentos que podem ser realizados nesse sentido”, revela.

Pesca ilegal representam 85% do lixo marinho

Rica Mello aponta, ainda, que grande parte da poluição encontrada nos oceanos é causada pela pesca industrial, que deixa uma enorme quantidade de redes de nylon e outros apetrechos nos mares.

Itens relacionados à pesca representam aproximadamente 85% do lixo marinho, de acordo com dados levantados pelo Greenpeace.

No Brasil, mais de 400.000 toneladas de vida marinha foram descartadas entre 2000 e 2018 apenas nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, avalia a ONG Oceana. A redução nas capturas do arrasto é sentida desde os anos 1980, empurrando a frota mar adentro em busca de cardumes; divulgou o jornal El País.

A chacina preocupa sobretudo quem mais depende dos recursos para sobreviver. Quase 113.000 famílias habitam 44 reservas extrativistas, áreas de proteção ambiental e outros territórios tradicionais nos 9.200 km de litoral brasileiro. Pesca, arrasto de praia, coleta de mariscos e de caranguejos predominam nas reservas.

Conter os arrastões pode beneficiar inclusive áreas protegidas, ameaçadas pela pesca excessiva, poluição e outras pressões humanas. Tais impactos reduziram em até 60% a vida marinha nas bordas em relação ao interior desses espaços, em vários pontos do globo, revela um estudo publicado em julho na revista Nature.

Mas as redes ameaçam formações ainda mais especiais, alerta a doutora em Biologia Beatrice Padovani, professora na Universidade Federal de Pernambuco.

“O arrasto sempre impacta o piso marinho. Fundos moles, de areia ou lama, se recuperam mais rápido, enquanto fundos duros, de esponjas e corais, podem levar décadas ou até centenas de anos, ou não se recuperar jamais”.

Fonte: jornal El País

Os estragos emitem tanto carbono quanto todos os voos comerciais realizados no mundo, mostra estudo publicado em março na Nature.

Os sedimentos marinhos são grandes depósitos do gás, que amplia o efeito estufa, aumentando a temperatura média planetária. China, Rússia, Itália, Reino Unido, Dinamarca, França, Holanda, Noruega, Croácia e Espanha respondem pela maioria do carbono liberado pelo arrasto de fundo.

Cegueira

Há cerca de 5.225 barcos de arrasto registrados no Brasil. Sete em cada dez (por volta de 3.700) atuam no Sul e Sudeste. Arrastões também são intensos no litoral da Amazônia.

A pesca se concentra no país todo em menores profundidades, mostra um sistema oficial de rastreamento por satélite. Essas áreas são habitadas por crias de muitas espécies.

Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação contam que apenas 2.400 (9,4%) dos 25.618 barcos pesqueiros cadastrados pelo Governo são monitorados por satélites.

Segundo o jornal El País, desde 2014, o Governo concedeu 13,8 milhões de reais em subsídios para compra de combustível à frota.

Apenas 632 barcos de maior porte são acompanhados eletronicamente, ou 12% dos arrasteiros. A movimentação dos demais é desconhecida.

O programa brasileiro que acompanha pesqueiros por satélites não é público e nem está integrado a iniciativas mundiais de monitoramento, como o Global Fishing Watch.

A cegueira facilita pescarias ilegais. Um relatório de 2019 da fiscalização ambiental federal traz 1.039 infrações ligadas a pescarias de espinhel, emalhe, linhas, potes, redes de cerco e de arrasto. O levantamento não discrimina os crimes dos arrastões.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) alegou não ter capacidade para extrair em tempo hábil de seus registros os delitos da pesca de arrasto na última década, como solicitado pela reportagem. Afirmou, ainda via Lei de Acesso à Informação, que divulgar os dados comprometeria o combate à criminalidade.

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