Loja digital de artes indígenas impacta a renda de 3 mil artesãos

Há uma década, Amanda Santana inaugurou a Tucum, uma encantadora loja de artesanato indígena situada no pitoresco bairro turístico de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Na época, com 31 anos, Amanda já sabia que sua visão transcenderia simples transações comerciais, e que esse empreendimento eventualmente se expandiria para uma plataforma online.

Para Amanda, a Tucum sempre foi mais do que um ponto de venda; era uma plataforma de desenvolvimento e conexão, um veículo para comunicar e educar sobre a realidade dos indígenas e a importância de valorizar esses povos e seu compromisso com a preservação ambiental.

Os primeiros testes foram realizados quando Amanda ainda trabalhava como atriz, maquiadora e cabeleireira, e percebeu o interesse crescente de seus clientes pelas artes dos povos indígenas, publicou o portal Um Só Planeta.

Durante quase três anos, em suas viagens a aldeias indígenas, acompanhando seu ex-companheiro, um indigenista que se tornou seu sócio, ela montou um estoque de artesanato.

Amanda Santana, a frente da Tucum — Foto: Divulgação

Inicialmente, a Tucum oferecia produtos dos Krahôs, Kajrés e Kayapós. À medida que o tempo passava, outras organizações indígenas procuravam a Tucum, e Amanda ampliava sua rede de fornecedores.

Ela também conduzia oficinas pessoalmente junto às organizações indígenas, como a Univaja – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, no Amazonas, que representa a população da segunda maior Terra Indígena do país.

A jornada de Amanda é uma história de empreendedorismo inspiradora, que não apenas preserva as ricas tradições culturais dos povos indígenas, mas também destaca a importância de uma conexão genuína com as comunidades indígenas e o compromisso com a preservação de vastas extensões de terras indígenas, que abrangem impressionantes 3 milhões de hectares.

Impacto Socioambiental: R$ 700 mil por ano

Hoje, a Tucum, com o apoio de 40 organizações, incluindo cooperativas e associações, viabiliza a venda de artesanato de aproximadamente 90 povos indígenas. Esse empreendimento gera uma receita de cerca de R$ 700 mil por ano, beneficiando a renda de 3 mil artesãos, a maioria deles mulheres.

Amanda, a fundadora da Tucum, enfatiza a importância da matriz de impacto que desenvolveram para atrair investimentos, e eles continuam a monitorar os resultados de perto, publicando anualmente um relatório.

Essa matriz de impacto relaciona o número de artesãs com o tamanho e população de cada aldeia, além de quantos hectares cada indígena consegue impactar de maneira positiva com seu trabalho e conhecimento.

Amanda destaca que, embora o artesanato possa enfrentar desafios em termos de escalabilidade, ele desempenha um papel fundamental na valorização e na preservação da cultura.

Amanda também destaca a importância do artesanato na transmissão de conhecimentos tradicionais para as gerações mais jovens nas aldeias. 

Ela enfatiza que esse valor é difícil de mensurar em termos financeiros, mas tem um impacto significativo na vida diária das mulheres indígenas e na gestão sustentável dos territórios indígenas.

Por exemplo, quando elas vão para a mata coletar sementes e fibras, geralmente estão acompanhadas de seus filhos, contribuindo para a continuidade desses conhecimentos e práticas tradicionais.

Empreendedorismo Feminino no digital

Com investimentos próprios, em 2015, ela conseguiu inaugurar a loja online da Tucum. No entanto, a operação principal continuou sendo a loja física até 2019. Tudo ia bem, mas quando a maternidade chegou para Amanda, cuidar da loja física tendo dois bebês de colo se tornou mais desafiador.

A empreendedora aproveitou a onda de crescimento da loja online, decidiu fechar a loja física e se mudar para Teresópolis, município a 200 km do Rio com um ambiente mais tranquilo para viver e criar os filhos.

Em paralelo, buscou ajuda para fazer seu negócio crescer e, em janeiro de 2020, recebeu seu primeiro investimento enquanto empreendedora, a partir da Amaz, aceleradora de negócios de impacto que atuam na região amazônica.

Com o investimento de R$ 400 mil, a Tucum se tornou a primeira plataforma de marketplace de artes indígenas do Brasil.

Por conta da pandemia, os cursos que Amanda costumava ministrar pessoalmente nas aldeias passaram a ser online, como um de 25 horas sobre gestão financeira, governança, estoque, precificação, curadoria de produto, melhoria, acabamento, comunicação e storytelling. “Queremos que as histórias sejam contadas por eles, e a gente possa só propagar as histórias”, diz.

Uma nova loja física foi aberta em Teresópolis, onde funciona a operação do negócio online e o centro de distribuição.

A equipe é enxuta. Amanda tem uma sócia dedicada à comunicação e conteúdo, um sócio consultivo, três funcionários, e alguns colaboradores pontuais para tarefas de finanças, design e fotografia.

Fotos: reprodução do Instagram da Tucum

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