“Da minha infância lembro que em casa tínhamos muitas carências, mas, nada disso importava, sempre resolvíamos e lutávamos contra qualquer adversidade. Morávamos em uma pequena casa que quando chovia, nós ficávamos molhados, porém isso não nos impediu de seguir em frente. Sinto que tudo aconteceu como Deus queria. Ele é quem está no controle”, escreveu no Facebook a primeira medalhista olímpica de ouro da Venezuela, Yulimar Andrea Rojas Rodríguez, no dezembro de 2020.
Yulimar salientou que quando queria desistir, sua mãe e sua família lhes diziam que não, que logo íam resolver tudo. “Às vezes não tínhamos transporte, nem onde dormir. Então, minha mãe acordava cedo só para me levar para as competições. Ela deu tudo por mim. Devo tudo a ela”.
E todo seu esforço foi para valer. Yulimar de 25 anos completou o ciclo das maiores lendas da história do atletismo neste domingo 1/8. O ouro do salto triplo já estava garantido quando, na sua última tentativa, ela alcançou 15,67m e quebrou o recorde mundial da ucraniana Inessa Kravets, que já durava 26 anos. Agora ela é recordista mundial e olímpico.
Melhor atleta do mundo
A atleta está radicada em Guadalajara, na Espanha, onde treina com o cubano Iván Pedroso. Mas não perde os laços com sua terra natal. Em entrevista com ge, ela lamentou que a Venezuela, do governo de Nicolás Maduro, mantenha uma política de isolamento que tem prejudicado tanto a população. E as liberdades individuais.
Bicampeã mundial, recordista mundial indoor e medalha de prata na Rio 2016. Foi eleita pela World Athletics (a federação internacional de atletismo) a melhor atleta do mundo, em todas as provas, em 2020.
Foi apenas a segunda competidora sul-americana, entre homens e mulheres, a receber tal honraria – a primeira foi a colombiana Caterine Ibargüen, justamente quem a derrotou no Rio 2016.
“Eu não me imaginava como ganhadora porque no atletismo há muitos atletas de alto nível. E eu tenho uma característica de ser uma pessoa muito low-profile, que não é muito de holofotes”, afirmou a estrela, de 1,92m e 72kg.
Homossexual declarada defende as liberdades
Yulimar salta longe, mas sua principal característica é a coragem. De sair de uma comunidade pobre na Venezuela, onde quase chegou a passar fome, para se tornar um dos grandes nomes do atletismo mundial. E por jamais deixar de ser quem verdadeiramente é.
Homossexual declarada, ela é ativa nas redes sociais em defesa das liberdades de expressão, opinião e inclinação.
“Eu nunca escondi minha orientação sexual ou meu orgulho pelo que sou e pelo que represento. Nós estamos em uma sociedade que nos oprime pelo que pensamos, pelo que sentimos. Sempre quis deixar uma mensagem de que todos somos iguais e de que não podemos classificar uma pessoa. Esperamos que, por meio de entidades e pessoas que lutam a cada dia lutam contra isso, entre as quais me incluo, possamos proporcionar uma mudança na forma de pensar. E que não haja essa maldade de querer que todos sejam da mesma forma” disse.
Mensagem de esperança
-Venezuela, Colômbia, Brasil e muitos países das Américas estão passando por momentos difíceis em situação econômica, social e esportiva. Nos Jogos Olímpicos, podemos mandar uma mensagem de união, de grandeza apesar das dificuldades. O esporte nos alivia em momentos de crise. Os atletas são portadores de amor, de superação e é por isso que lutamos diariamente. O esporte não é tudo, mas pode deixar uma mensagem de esperança em momentos como esses – arrematou.