Quem visita Curitiba tem o prazer de caminhar nas longas calçadas cheias de recortes de pedrinhas e uma espécie de quebra cabeças preto e branco. Estas são as calçadas petit-pavé, também conhecido como mosaico português. Umas verdadeiras obras de arte sob os nossos pés.
Além do charme que elas dão à cidade, os desenhos que os curitibanos e turistas pisam têm muitas histórias, arte, cultura e o talento de pessoas. Assentadas por mestres calceteiros de várias épocas, o trabalho artesanal e milenar resiste o passar dos anos.
As calçadas foram criadas pelo artista do Movimento Paranista Lange de Morretes no começo do século 20, quando vários artistas do velho continente vieram para as ex-colônias de Portugal e trouxeram a técnica dos mosaicos portugueses com basalto e calcário que é preservada até hoje.
O Movimento Paranista foi uma proposta estética regional, concebida para valorizar a identidade paranaense por meio de elementos que simbolizassem a singularidade do Paraná nas artes. O pinheiro (o principal deles), o pinhão, a erva-mate, a onça e a gralha azul estavam entre eles.
O mestre revela o secredo da técnica
Na Rua Voluntários da Pátria, no Centro, no ano de 2019 as mãos caprichosas dos irmãos e mestres dos mosaicos portugueses Sebastião e José de Souza têm reconstruído o petit-pavé que fizeram na mesma via há quase 50 anos. Um dos primeiros e dos muitos trabalhos feitos pelos irmãos na capital paranaense.
O segredo da técnica segundo Sebastião começa já na inspeção da qualidade da pedra, que deve ser bem cortada e com as dimensões de uma caixinha de fósforos. O tamanho menor deixa o mosaico mais bonito. A quantidade e o peso do que vai passar por cima da calçada conta também.
O preparo do terreno é igualmente importante: deve-se retirar uma camada de até oito centímetros de terra. Depois, medir o caimento do lugar, que deve ser proporcional à metragem. Antes de despejar a massa feita de areia e cimento, é preciso mexer, espalhar e nivelar.
Aí entram as pedras. Para fazer os desenhos como os de pinhão e motivos indígenas, as pedras devem ser posicionadas sobre a base. “A colocação é sempre de fora da forma para dentro.” Cada pedra é encaixada seguindo o desenho definido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), responsável pelos projetos.
Para um metro quadrado de calçada de petit-pavé, os calceteiros usam entre 300 e 350 pedras, dependendo do desenho. “Por dia dá pra fazer uns 6 metros quadrados”, contou Sebastião para o portal XV Curitiba.
Uma a uma, o calceteiro escolhe pelo toque o lado da pedra que fica voltado para cima, onde o pedestre vai pisar. Se não der o encaixe, é preciso preparar a pedra antes de assentá-la.
Ainda tem o fato de a mão não poder parar. Isso mesmo. Entre fixar uma pedra e procurar pela próxima, o martelinho continua. Do contrário, o ritmo vai por água abaixo.
Depois de terminar o trecho, o acabamento se dá por duas ou três camadas de massa de areia e cimento para os rejuntes. Entre uma e outra, a área é molhada e tudo é emparelhado com o soquete de madeira. “Esse é o momento de consertar as costas”, brinca .
Onde encontrar na cidade?
Por toda a cidade é possível encontrar os diferentes desenhos das calçadas, mas principalmente no Centro e próximo aos pontos turísticos, você encontra com mais facilidade.
Próximo à Praça Tiradentes, você encontra calçadas com desenhos modernistas, com motivos geométricos criados pelo arquiteto Osvaldo Navaro.
Já na Praça Osório, as calçadas curitibanas tornam-se um charme, desenhadas com pinhões nas laterais e desenhos com linhas sinuosas que fazem parte do movimento art nouveau. É o desenho mais clássico e muito amado pelos curitibanos.
Ao lado do Teatro Guaíra você encontra as lindas ondas do mar e próximo a qualquer parque você consegue pisar nos desenhos de Araucárias e indígenas que circulam pela cidade.