Caminho do vinho: turismo rural, renda e tradições

O turismo rural, além de proporcionar novas fontes de renda aos produtores rurais, tem um propósito implícito de valor inestimável: o resgate das tradições culturais locais.

No cenário pitoresco do Caminho do Vinho em São José dos Pinhais, Paraná, essa missão ganha vida, narrando a saga de famílias italianas que, desde inícios do século XX, desembarcaram em terras brasileiras e moldaram o cotidiano da região com árduo trabalho de adaptação e preservação de suas tradições.

A guia de turismo e sommelier, Rosana, descendente ítalo-polaca, compartilha a história de seus antepassados, enfatizando que “não se tinha nada”. Construir, plantar e criar animais eram não apenas meios de subsistência, mas rituais que permeavam o dia a dia, transmitindo-se de geração em geração.

Hoje, descendentes desses guerreiros italianos dedicam-se apaixonadamente à preservação da tradição da produção artesanal de vinho, comidas típicas, artesanato e folclore.

O Bus tour

O roteiro de turismo rural, conhecido como Caminho do Vinho, foi identificado como uma jóia turística em 1998, durante o Plano de Desenvolvimento Turístico de São José dos Pinhais.

A partir do emblemático Shopping Estação, os visitantes embarcam em um ônibus temático, guiados pela Rosana apaixonada pelo turismo rural e vinhos. O trajeto, repleto de paisagens exuberantes, cria o pano de fundo para a imersão na história de italianos e poloneses na região.

O Caminho do Vinho, Colônia Mergulhão, abriga atualmente 34 propriedades rurais envolvidas em diversas atividades, desde vinícolas até restaurantes, chácaras de eventos, minhocário, pesque-pague, pousadas e artesanato.

Essas propriedades preservam edificações típicas da colonização italiana, consideradas de valor histórico e ainda utilizadas como residências de famílias tradicionais, como Bortolan, Hungaro, Daldin, Juliatto e Pissaia.

Cada parada ao longo do caminho revela uma faceta única da cultura italiana.

Politano

Na vinícola Politano, a tradição da produção de vinhos é compartilhada com detalhes, desde as parreiras que produzem uvas até o processo produtivo, com degustação incluída.

Rosana disse que David Pissaia começou sua produção de vinhos na Colônia Mergulhão só para conhecidos, em 1958. Passando a tradição de produzir vinhos a Dirceu que assinou a seus filhos Diogo e Rochelle, ela cursou enologia em Bento Gonçalves-RS e vem acrescentando ainda mais experiência aos rótulos da família.

Na propriedade conseguimos ver parreiras que ainda produzem uvas. Explicou que a região hoje não é muito propícia ao plantio por problemas como clima e a praga filoxera. Por isso a maioria da uva para seus vinhos vem de Bituruna PR e Caxias do Sul RS.

A capacidade da vinícola é de 35 mil litros de vinhos, Bordo e Niágara no vinho de mesa e a linha Ipê de vinhos finos em menor escala.

Além disso, apresentou a Salumeria Politano. Disse que são a primeira agroindústria familiar de embutidos a adquirir o registro em São José dos Pinhais PR.

Ao longo do tempo, Dirceu Pissaia inovou o produto e criou o salame de pernil temperado com vinho nas versões tradicional, com azeitona, queijo e pimenta calabresa. Entre as linguiças, destaca-se a com tempero acentuado no alho.

Os visitantes nos deliciamos com os diferentes tipos de salame.

Os Juliatto

Seguidamente passamos a conhecer a vinícola da família Juliatto que há mais de 100 anos, produz vinhos na Colônia Mergulhão. Vinda da região de Veneto, na Itália, os irmãos Paulo, Luciano e Ernesto Juliatto continuaram com a tradição e passaram para seus filhos, que, hoje administram a vinícola.

Os vinhos dos Irmãos Juliatto, que ficam na casa 3797, são produzidos com uvas da Serra Gaúcha.

A vinícola tem um grande barril de vinho e uma carroça, parada obrigatória dos turistas para registrar com fotos a passagem pelo Caminho do Vinho.

Os Vinhos do Italiano

Outra parada foi nos Vinhos do Italiano. Vindo da Sicilia, na Itália, Mario Belino passou a tradição de produzir vinhos e a administração da vinícola para seus três filhos, que estão à frente das quatro lojas da família.

Há 20 anos, a família produz vinhos com a uva produzida no Parreiral Bellino, dentro de uma fazenda em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. 

Vô Vito

Desde 1877, compartilha a arte da produção caseira de vinhos tinto e branco, proporcionando uma experiência autêntica.

A vinícola produz vinhos tinto (Bordô) e vinhos branco (Niágara), nas opções seco e suave.  Além dos vinhos, o espaço oferece produtos coloniais, como queijos, salames e doces em conserva.

Morangos

Para quem busca o contato com a natureza, produtos naturais e saudáveis, está: Só Morangos Colha e Pague.

Na entrada do plantio a pessoa recebe uma caixinha para fazer a colheita dos morangos. Cada adulto deve colher pelo menos 700 gramas de morango e pode experimentar até 2 morangos. Já as crianças de zero a 4 anos podem acompanhar adultos de forma gratuita e crianças de 5 a 9 anos devem colher pelo menos 300 gramas de morango.

O cliente também pode comprar caixinhas de 1kg ou 500 gramas de morango direto na loja.

O empreendimento vende geleias de morango, suspiro e espetinho de morango com chocolate e outros derivados da fruta.

Também existe a possibilidade de degustar morangos à vontade, por um preço fixo.

De outubro a março os clientes podem fazer colheita de terça a domingo.

De abril a setembro, devido ao clima, pode abrir aos fins de semana, dependendo da quantidade de morangos na estufa.

Nesse roteiro encantador, o turismo rural não é apenas uma jornada, mas uma celebração vibrante da cultura italiana, onde cada parada é uma oportunidade de se perder na riqueza histórica e culinária que permeia essas terras abençoadas.

O Caminho do Vinho não é apenas um trajeto; é uma viagem ao coração da tradição italiana, uma experiência que enche os sentidos e alimenta a alma.

Fotos: Dulce Maria Rodriguez e Caminho do vinho

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