Você já deve ter ouvido que a indústria da construção civil é considerada uma das mais agressivas ao meio ambiente. Parte deste impacto ambiental se deve aos resíduos de obras e demolições, na maioria, não-degradáveis ou de difícil degradação.
Segundo dados da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), o Brasil gera aproximadamente 84 milhões de m³ desses resíduos.
Pelo próprio padrão construtivo brasileiro, o maior percentual de descarte é o de argamassa (63%), seguido de concreto e blocos (29%). Ainda mais preocupante que o lixo doméstico, este resíduo da construção civil representa um grande volume para os aterros sanitários.
Um material difícil de ser compactado e degradado, que contribui para esgotar rapidamente o espaço disponível.
O tijolo K-Briq
Quer solução mais óbvia para os resíduos de construção do que aproveitá-los para criar novos materiais?
Batizado de K-Briq, o tijolo sustentável da startup escocesa Kenoteq e desenvolvido pela brasileira Gabriela Medero, na Universidade Heriot-Watt de Edimburgo, na Escócia, possui 90% de sua matéria-prima reciclada.
A criação rendeu à profissional um lugar na lista Top 50 Women in Engineering (WE50).
Outro bônus é que a peça não é queimada, evitando a emissão de gases poluentes, outro impacto preocupante do setor.
Segundo relatório publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2020, a construção civil e sua indústria são responsáveis por 38% das emissões de dióxido de carbono (CO₂).
“Este é o primeiro tijolo do mundo feito com 90% de resíduos de construção e demolição. Ele é produzido com um décimo das emissões de gás carbônico, usando menos que um décimo da energia necessária para a fabricação de um tijolo tradicional”, afirma Gabriela.
A engenheira passou mais de 10 anos desenvolvendo o produto na universidade escocesa, movido pelo desejo de reduzir o impacto ambiental da indústria da construção.
“Passei muitos anos pesquisando materiais de construção e me preocupei com o fato de que as modernas técnicas de construção exploram matérias-primas sem considerar que estão entre os maiores contribuintes para as emissões de carbono”, disse ela ao site Dezeen. “A quantidade de lixo que eles produzem não é sustentável a longo prazo.”
Segundo Medero, o K-Briq se parece com um tijolo normal, tem o mesmo peso e se comporta como um tijolo de barro, mas oferece melhores propriedades de isolamento. A empresa diz que pode produzi-los em qualquer cor.
Além de economizar energia no processo de fabricação, a Kenoteq reduz as emissões ao produzir os tijolos localmente. A empresa está produzindo seus tijolos em um centro de reciclagem em Edimburgo, minimizando consideravelmente a quantidade de transporte necessária no processo
“Além disso, produzimos os tijolos em uma instalação de reciclagem de resíduos, reduzindo os km de transporte”, completa.
Reduz em 90% consumo de água
“A indústria da construção enfrenta um tremendo desafio ao atingir as metas de descarbonização. A indústria envia mais de 800 milhões de toneladas de resíduos para aterros na Europa todos os anos, com um enorme custo para si própria e para o ambiente. No Reino Unido, a construção e o ambiente construído representam aproximadamente 50% de todos os resíduos gerados na Escócia” disse Sam Chapman, diretor administrativo da Kenoteq ao site Scottish Construction Now.
A empresa foi escolhida para receber um Fundo de Investimento Zero Waste Scotland, desenvolvido para estimular iniciativas de economia circular na Europa.
A Kenoteq também recebeu diversas premiações pelo desenvolvimento do produto inovador. Segundo a startup, o K-Briq está passando pela certificação final e chegará à comercialização no Reino Unido já no final de 2022.
Fotos: Zero Waste Scotland