Quem vai brincar de boi? A Ilha Tupinambarana está pronta para o 55º Festival Folclórico de Parintins, invadida por uma atmosfera de magia, arte, cultura e muita alegria.
O clima do festival remete à lembrança de escolas de samba em época de carnaval, pois os processos são semelhantes. Se trata uma festa popular que acontece todos os anos, no município de Parintins, no interior do estado do Amazonas, mas ficou suspensa durante dois anos pela pandemia da Covid-19. Agora o povo está ansioso por assistir o espetáculo.
O festival acontece durante três noites, desta vez de sexta-feira a domingo (24 a 26/06), com a proposta de ser o maior festival de todos os tempos. O local é o bumbódromo, que tem capacidade, na arena, para ocupar 35 mil pessoas e tem o formato de uma cabeça de boi.
O tema gira em torno a rivalidade entre dos bois. De um lado, o boi branco com o coração avermelhado (Garantido) e do outro, o boi negro com a estrela azulada (Caprichoso). Suas performances transformam Parintins no maior teatro a céu aberto do Amazonas apresentando um grandioso espetáculo de cores, música, dança, costumes e rituais.
Cada Boi conta com uma agremiação muito fiel. Cerca de 3.500 integrantes de cada boi desfilam por noite, divididos em 30 tribos.
As apresentações, de cada boi, têm duração de duas horas e meia e as coreografias são ensaiadas durante seis meses nos currais. Cada dia, mudam as alegorias e as ala.
A música da festa, conhecida como toada, é tocada por baterias compostas por cerca de 400 integrantes. A Batucada (do Garantido) e a Marujada de Guerra (do Caprichoso). São mais ou menos 50 toadas por noite.
Os torcedores não brigam e são muito respeitosos entre si. Inclusive, enquanto uma se apresenta no bumbódromo a torcida da outra não pode se manifestar.
O festival é tão importante que é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O evento é a maior fonte de renda de grande parte da população e durante o resto do ano, os locais trabalham para receber os turistas internacionais e regionais que desembarcam na cidade.
Entre 2005 e 2018, o Festival injetou mais de R$ 426 milhões na economia do Estado e atraiu quase 700 mil turistas.
“80 mil visitantes para uma cidade de aproximadamente 110 mil habitantes é um número muito relevante”, calcula o presidente da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Gustavo Sampaio. É com essa estimativa de 80 mil turistas pelos próximos dias na ilha que trabalha a pasta para a edição do que já promete ser “o maior dos maiores” Festivais Folclóricos de Parintins.
Num comparativo com o público visitante da última edição do festival, em 2019, calcula-se, por base, um aumento entre 10% a 15% no número de brincantes na Ilha.
Devido à pandemia, que suspendeu a festa nos últimos anos, foram quase três anos de inércia no comércio local. A prospecção dos 80 mil visitantes é a válvula que a cidade precisava na sua retomada, comenta o presidente.
Como parte da preparação da cidade para receber os visitantes durante o festival, o governo do Estado anunciou a revitalização do Bumbódromo, a pavimentação de 43 ruas do município em seis bairros (União, Itaúna I e II, Paulo Corrêa, Nazaré e Centro). Com isso muitos trabalhadores conseguiram renda.
Ainda como parte do apoio do Estado, os bumbás Caprichoso e Garantido receberam R$ 10 milhões, sendo R$ 5 milhões para cada bumbá, para preparação do espetáculo.
Novidades 2022
Neste ano Parintins ganhou um novo espaço cultural para o público. A “Estação +Cultura”, instalada no estádio Tupy Cantanhede, com apresentações, exposições coletivas de artes, instagramáveis, feira de economia criativa e galerias de Caprichoso e Garantido.
O projeto faz parte do “Circuito +Cultura”, inclui visitação mediada ao Bumbódromo, das 9h ao meio-dia, e o Trio Panavueiro, com shows das 15h às 17h.
Visita mediada
Com apoio da unidade do Liceu de Artes e Ofício Claudio Santoro no município, o programa fica disponível a partir de quarta-feira (22/06), com ponto de partida no hall do Centro Cultural Bumbódromo.
Os visitantes vão ser divididos em grupos de dez pessoas e o roteiro tem duração de 40 minutos. As inscrições podem ser feitas na bio da @culturadoam no Instagram.
Exposição
Entre os destaques da visita ao Bumbódromo está a exposição “Perspectivismo Amazônico: A Nossa Antropologia”, em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. Com curadoria de Diego Omar e Jandr Reis, a mostra reúne obras dos artistas Kemerson Freitas e Alziney Pereira, do Curumiz, Dennis Amoedo, Dermison Salgado, Josinaldo Mattos, Pito Silva e Levi Gama.
Galeria a céu aberto
Já na área externa, o público pode conferir o “Mural Vitória da Cultura Popular”. A obra de assinatura do Curumiz utiliza a técnica do grafismo para colorir a fachada do centro cultural. O mural de quase 800 metros quadrados exibe, de cada lado, a arte representada pelos bois-bumbás vermelho e azul.
O projeto “Parintins – Galeria Cidade Aberta” inclui mais de 2 mil metros quadrados de muros coloridos por artistas de Parintins, que não estão na cadeia produtiva dos bois-bumbás.
As obras abordam a temática indígena, a cultura cabocla, as cosmologias amazônicas, as festas e tradições parintinenses. Os muros do Liceu de Artes e Ofício Claudio Santoro, Planeta Boi e do estádio Tupy Cantanhede, entre outros, receberam pinturas artísticas.
Ainda no entorno do Bumbódromo estão as esculturas em alto relevo de artistas parintinenses que retratam a cultura local, as belezas naturais e o cotidiano caboclo. São 22 obras em cimento, dos membros da Associação de Artistas Plásticos de Parintins (AAPP), construídas no ano de 2000 e restauradas pelo Governo do Amazonas.
Trio Panavueiro
Sob o comando de Helen Veras, o trio Panavueiro vai circular na sexta-feira, no sábado (25/06) e no domingo, das 15h às 17h, pelos principais pontos da Ilha Tupinambarana.
Entre os convidados estão Enéas Dias, Felipe Jr., Balanço da Toada, Adriano Aguiar, Caetano Medeiros e Toada de Roda, com concentração a partir das 14h, no Centro de Parintins.