Maués no estado Amazonas é considerada a terra do guaraná. Indígenas e ribeirinhos ainda mantêm os rituais e cultivos tradicionais e isso é o que faz a diferença e valoriza a qualidade dessa espécie nativa da Região Amazônica.
O guaraná é colhido de forma seletiva, somente os grãos maduros são padronizados, existe com um baixo período de fermentação que é no máximo 5 dias só de armazenamento. Ele é despolpado de forma higiênica, com despolpadora artesanal e não pode ser pisado, sublinhou Ramom Morato, engenheiro agrônomo e diretor da Bio Territórios Agroflorestais.
Seguidamente é torrado lentamente em tacho de barro com as cerâmicas dos povos tradicionais, que era utilizadas pelos indígenas.
Tudo isso faz com que o guaraná de Maués seja muito especial. “Esse pó contém o energético natural, possuí níveis mais elevados dos agentes benéficos como a cafeína e antioxidantes. É um guaraná feito para ser consumido puro como manda a tradição de Maués, não é para ser consumido de forma industrial”.
Além de seus efeitos já conhecidos, como dar energia e disposição, suas propriedades também auxiliam no emagrecimento, ajudam o sistema imunológico, melhoram a pressão sanguínea, reduzem o colesterol, possuem substâncias anti-inflamatórias e antioxidantes, prevenindo também o envelhecimento.
Raízes Satarê-Mawé
Segundo a lenda do guaraná, foi depois que uma mãe enterrou o olho de seu filho, considerado um protegido dos deuses indígenas, que nasceu o primeiro fruto de Guaraná. Essa é história que contam em Maués, terra habitada pelo povo Saterê-Mawé.
A cidade ribeirinha de Maués, no interior do estado do Amazonas, tem raízes indígenas e sua vida e economia baseada principalmente no cultivo do guaraná. São mais de dois mil produtores da espécie na região.
Para chegar à cidade, isolada na Floresta Amazônica, são necessárias cerca de 20 horas de barco partindo de Manaus. A outra forma de chegar até o local é fretando um avião bimotor.
Maués tem aproximadamente 60 mil habitantes, mas o curioso é que dois terços de seus cidadãos vivem em casas isoladas e em pequenas comunidades ao longo dos rios que permeiam o município, tendo o barco como único meio de transporte.
Produção
Entre 2014 e 2018, a produção de guaraná no Amazonas ganhou força, passou de 624 a 733 toneladas, uma alta de 4%. O motivo pode ser justamente o fato de agora ter uma produção orgânica despontando.
A produção envolve a participação direta de pelo menos duas grandes cooperativas e 12 polos agrícolas de pequenos produtores.
O cultivo do guaraná constitui um típico sistema agroflorestal e se destina, sobretudo, para a produção de extrato vegetal e concentrados, que são empregados na formulação de refrigerantes.
Se desenvolve principalmente em sistemas integrados comandados pelas empresas líderes desse setor, como a AmBev e a Coca-Cola.
A Associação Comunitária e Agrícola do Rio Urupati (Ascampa) hoje é uma das maiores associações de Maués é uma das maiores produtoras de Guaraná. Só para Ambev ela conseguiu a comercialização de 36 toneladas no ano 2020. Fora isso também separou uma quantidade para comercializar para mercados mais específicos.
Um grupo de 7 produtores foram certificados para alcançar o mercado de orgânicos dentro do mercado brasileiro. O selo de Indicação Geográfica (IG) ele é um processo que dura mais de 10 anos, foi oficialmente conseguido em 2018, mas esse é o primeiro ano que está sendo comercializado o guaraná com o selo IG que é uma das formas de reconhecimento da forma tradicional e da qualidade superior que o guaraná de Maués possui.
O selo IG traz esse reconhecimento desse guaraná, dessa forma tradicional de cultivo de Maués. “O guaraná foi desenvolvido aqui pelos povos indígenas é a cultura do local e essa é uma estratégia importante para divulgar o nome de Maués e fortalecer a identidade local e mostrar isso para o mundo. Eles entendem que isso é um marketing interessante que precisa ser construído”, disse Ramom
Orgânico
Aliar técnicas tradicionais de produção do guaraná na Amazônia às novas tecnologias para proporcionar segurança e valorização na cadeia do produto é o caminho que agricultores familiares estão trilhando no município de Maués.
Produtores comercializaram em 2020 no Brasil a primeira safra que usou mecanismos de rastreabilidade, instrumento exigido pelo IG e a certificação orgânica outorgada pela Opac Maniva, organismo participativo da avaliação da conformidade, credenciada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O rastreamento da produção começou com um plano piloto, que envolveu 46 agricultores familiares ligados Ascampa, permitindo adotar um sistema padronizado.
A logística é muito desafiadora. Ascampa fica a uma hora com uma lancha rápida de distância de Maués e de Maués ainda falta um dia e meio de barco de Manaus, a capital do estado Amazonas O acesso à cidade é difícil, e custa caro escoar a produção, porque o transporte é feito de barco a gasolina. Toda essa logística é muito cara e eleva o preço do produto quando se envia para outras regiões do Brasil, mas, a qualidade superior do guaraná de Maués com certeza compensa isso para quem tem o prazer de experimentar o Guaraná da Amazônia.
Os principais compradores da Ascampa são as lojas de produtos orgânicos. “Estamos começando agora com essa frente, algumas lojas de São Paulo e outros locais do Brasil que trabalham com produtos da sóciobiodiversidade e produtos da agricultura familiar, que querem valorizar esse trabalho da construção agroecológica, esses são os nossos principais pontos hoje”.
Além disso, tem parcerias com outras empresas de outras regiões que também estão desenvolvendo os seus produtos
Fotos: Felipe Panfili e divulgação