Manaus 353 anos: conheça a cidade através dos olhos de uma imigrante venezuelana

Manaus comemora 353 anos nesta segunda-feira (24). Como forma de celebrar a data, uma imigrante venezuelana que por sinal é a criadora de Focando no positivo, narra como é a cidade a traves das vivencias delas para que você conheça mais sobre a capital do Amazonas, seu povo, culinária e costumes, confira:

Quando cheguei em Manaus há 5 anos o primeiro que me impactou foi seu clima. Era agosto e faziam 42º, com sensação térmica de 48°, me sentia sufocada e o suor pingava pelo meu corpo sem me movimentar. As ruas ardiam, era fogo que nem o deserto.

Depois descobri que as pessoas são acolhedoras, alegres e positivas. Sempre perguntam: Todo bem? E eu não tinha como responder que não. O jeito deles é relaxado e brincalhão. Parece que ninguém está com problemas. 

No trabalho fazem o que se pode o mínimo indispensável, nada de estresse com a perfeição, tempo de entrega ou pontualidade nos agendamentos, o normal é chegar uma hora depois do combinado, principalmente se tiver muitas pessoas envolvidas no evento.

A solidariedade é outra das caraterísticas dos manauaras. Em todos os escritórios, organismos públicos e mesmo em casas de família, sempre vão te oferecer água, biscoitos, torradas ou café que se produz no Brasil em grandes quantidades. 

É comum se conhecer alguém, bater um papo, falar “a gente se vê, vamos combinar, tá?”, e nem trocar telefone. 

Rua Bernardo Ramos a primeira rua de Manaus

O clima também define seu jeito de vestir e penteado. Chinelos e bermudas de diferentes cores, modelos e tecidos estão em moda para qualquer ocasião.

Comum também é sair de roupas de esportes, mas sem a intenção de praticar esporte. Os homens costumam vestir a camiseta da equipe de futebol pela que torcem, chinelos e bermudas, quase sempre!.

As mulheres vão de short ou vestido e chinelos. Não adianta fazer a escova no cabelo, porque ao sair de casa o cabelo fica molhado.  Pois é! ainda isso fica difícil para mim que estava acostumada a morar em uma cidade de 24º, minha Caracas, a capital da Venezuela.

O pôr do sol em Manaus é lindo. Se mistura o vermelho com o amarelo e resulta em uma obra de arte.

Tanta coisa para se fazer na Ponta Negra, mas confesso que o meu favorito é ir no fim de tarde ver o por do sol maravilhoso de Manaus! Super recomendo!

Ponta negra

Enchente e seca

Todo ano, com o degelo nos Andes e a estação das chuvas na região Amazônica, o nível do rio sobe vários metros, alcançando sua máxima entre os meses de junho e julho. O pico coincide com o “verão amazônico”. O nível do rio abaixa até meados de novembro, quando novamente inicia o ciclo da cheia. 

Esses ciclos afeitam a vida das populações ribeirinhas e dos mais pobres. Na cheia, quando os rios sobem até 15 metros acima do nível normal, as casas ficam alagadas e a taxa de captura de peixe (principal alimento deles) é 73% menor em relação ao período de seca, além disso perdem suas casas e plantações.

Na cidade Manaus, a vida acontece sobre pontes de madeira e um fedor insuportável.

Na seca, se prejudica a navegação e abastecimento de itens básicos. Onde passava o rio pode se observar muita terra e lama. Para a população amazonense até é normal.

Eu fico muito preocupada e me preguntando como podem viver assim, perdendo tudo cada ano. Acho que tem que haver algum jeito para que possam se preparar para esses eventos, tanto de cheia quanto de seca, para que  conviver com eles não seja tão sofrido.

Culinária

Dito isso, tenho que fazer destaque da culinária manauara porque acho muito gostosa e principalmente saudável. É uma das caraterísticas da região que me apaixonam. O tambaqui de banda, a costela de pirarucu, caldeirada de peixe e tacacá, são meus pratos preferidos. Tenho que admitir que adoro peixe.

Em Manaus, não tem o conceito de refeição com entrada, prato principal e sobremesa separados. Em geral se faz um prato com todo: arroz, feijão, carne, farofa e macarrão. Daí, eles acabam comendo uma mistura de tudo.

Tambaqui de banda
Açai

Não tem como não gostar das frutas que são antioxidantes e fartas em vitaminas para manter o sistema imunológico ótimo.

Foi amor à primeira vista com o açaí, cupuaçu, tucumã, taperebá, graviola e buriti. Sobre o abacaxi tenho que admitir que realmente é o mais doce do mundo.  

Não posso deixar de mencionar o Guaraná que ganhou recentemente a denominação de origem.

Costela de pirarucu
Castanhas

Também amo as castanhas, importantes para mim por conterem grandes quantidades de gorduras insaturadas e poli-insaturadas com ação antioxidante.

Dessa forma, além de diminuírem meu colesterol ruim, elas atuam na prevenção da hipertensão, que às vezes me atrapalha

Esporte, religião e música

Outras coisas que chamaram a minha atenção são que todo mundo torce para um time, de perto ou de longe. O futebol é quase religião e cada time uma capela. As bandeiras das equipes de outros estados são vendidas nas principais ruas nos dias de jogo.

Sempre tem um pastor ou padre falando na televisão ou na rádio. Os templos parecem com clubes sociais e todas as pessoas pertencem a uma religião. Tem no mínimo três igrejas ou templos por rua, mas o centro está lotado de indigentes, precisando de ajuda.

O Teatro Amazonas e algumas casas do centro da cidade são verdadeiras joias arquitetônicas, porém os manauaras nem ligam para isso. No que diz respeito com a música, tem a incrível Orquestra Filarmónica e Amazonas Jazz Band, que antes da pandemia ofereciam concertos semanais de graça, mas, infelizmente muitas cadeiras ficavam sem ninguém.

Eu me confesso apreciadora destas orquestras e dou meus parabéns pela qualidade da sua música. Elas apresentam a música clássica, com arranjos contemporâneos e dando destaque a novos compositores. Porém observo que em qualquer lugar tem música ao vivo e os bares estão cheios de bandas de cover, acho que o pessoal do Amazonas prefere a música sertaneja, funk e forro.

A floresta

A floresta amazônica, a maior floresta tropical do mundo é também o maior banco de diversidade biológica do planeta, além de um patrimônio mineral não mensurado. Orgulho dos manauaras.

O desafio dos povos que habitam a Amazônia  é integrar desenvolvimento econômico com proteção de seus recursos naturais.  Para isso, muitas inciativas estão sendo desenvolvidas, entre as quais a criação de áreas protegidas (Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Terras Quilombolas) e o combate ao desmatamento, mas, posso lhe dizer que ainda tem um longo caminho pela frente.

Aqui termina

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