Há quase cem anos, Claes Nobel, sobrinho de Alfred Nobel – criador do Prêmio Nobel – propôs a criação de um Nobel do Meio Ambiente numa reunião na fundação que leva o nome de sua família. O pedido foi negado, mas ele não abandonou seu sonho.
Sem conseguir realizá-lo (faleceu em 2021), deixou a ideia plantada no coração de seu filho Marcus Nobel, que lançou o Prêmio United Earth Amazonia – também chamado de Nobel Verde – na última segunda-feira (27/2), no Teatro Amazonas, em Manaus.
Marcus dirige a organização United Earth, que, com o novo prêmio, reconhece projetos de arte e música e iniciativas de ESG (responsabilidade socioambiental e governança), que, de forma relevante e efetiva, dão suporte à sustentabilidade da floresta e ao bem-estar de seus habitantes.
A intenção é transformá-lo em referência, como acontece com o Prêmio Nobel. “A humanidade precisa reconhecer que precisa viver em harmonia com cada um e com todo o meio ambiente. E para concluir eu posso dizer que a preservação da Amazônia é um exemplo não somente para o Brasil, mas para todo o mundo, que possam ver e se inspirar”, destacou Marcus.
O prêmio será entregue anualmente e a cerimônia realizada em diferentes cidades do mundo para que o prêmio se torne global e adquira as características de cada localidade.
Manaus, sede mundial do
Prêmio United Earth Amazonia
“Faz muitos anos que meu pai propôs a ideia e hoje estamos aqui, no coração da Amazônia, fazendo isso acontecer”, contou Marcus Nobel, na cerimônia.
Em seguida, emocionado, anunciou o cantor Roberto Carlos, um dos agraciados com o prêmio Nobel Verde junto com seu parceiro Erasmo Carlos (falecido no ano passado), devido às suas composições em prol do meio ambiente e da Amazônia, desde os anos 70.
E ainda revelou que a canção Amazônia, de 1989, composta pelos dois amigos, “foi, na verdade, a grande razão para Manaus ter sido escolhida para sediar este momento”.
“A Amazônia pode ser um exemplo brilhante para o mundo inteiro, de como podemos preservar os ecossistemas e promover o progresso sustentável. O objetivo do prêmio é dar voz, de dentro da Amazônia, para esta região”, acrescentou.
Segundo Rubenson Chaves, representante institucional da LCTM BrandBuilder e da United Earth na Amazonia, Manaus foi escolhida e anunciada como sede, em outubro do ano passado, por ser a ‘Capital da Amazônia’, um símbolo para todos aqueles que tem como propósito a causa da conservação e das populações que se sustentam com o produto da floresta, sem degenerá-la.
O prêmio teve todo o apoio do governo de Manaus, que através do prefeito David Almeida, colocou a capital amazonense no centro da sustentabilidade mundial.
Os projetos premiados
Dos 22 projetos inscritos, na categoría de Responsabilidade Socioambiental e Governança (conhecida mundialmente pela sigla ESG), foram seis os projetos contemplados:
1-Vaga-Lume
Na área Educacional, foi desenvolvido para atender as crianças das comunidades rurais da Amazônia.
Há 21 anos, a Associação mantém projeto na área educacional, com o propósito de empoderar e crianças e jovens das comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e gestão de bibliotecas comunitárias e está presente em 22 municípios da Amazônia Legal com 89 bibliotecas comunitárias e 5 mil mediadores de leituras formados.
Para Lia Jamra, gerente, o prêmio Nobel Verde vai ajudar a dar “visibilidade às crianças que participam do projeto para que elas tenham um futuro promissor e cuidadoso para com a floresta. Além disso, é um importante reconhecimento para os 900 voluntários que atuam no programa”.
2-Sataré-Mawé, Eco-Etnodesenvolvimento
Busca a independência econômica por meio da bioeconomia sustentável do guaraná pelas comunidades do Amazonas.
Na cerimônia, Obadias Batista Garcia, presidente do Conselho Geral da Tribo Sateré Mawé, se emocionou dizendo que estava vivendo um momento único.
“É um reconhecimento pelo trabalho de 30 anos do nosso povo. É uma honra ter participado deste momento representando meu povo”.
3-Sakaguchi Agroflorestal
Projeto de aprimoramento e disseminação do sistema agroflorestal, gerando desenvolvimento social e econômico da comunidade de imigrantes japoneses e da região.
Para Marcela Sakaguchi, gerente administrativa, o prêmio é uma homenagem ao seu avô, que implantou, em Tomé-Açu, esse método de produção agrícola desenvolvido pela comunidade de imigrantes japoneses.
“É um reconhecimento ao trabalho iniciado por ele e, depois, por meu pai em benefício de toda comunidade e da floresta”.
4-Braziliando
Projeto que desenvolveu a integração entre turistas e povos tradicionais da Amazônia – etnia Baré, de Nova Esperança -, por meio da inovação em tecnologia (aplicativo e plataforma) de turismo de base comunitária.
5-Rede Mulheres do Maranhão
Projeto que promove a inclusão social e econômica por meio do empoderamento das mulheres para o empreendedorismo a partir do cultivo e subprodutos do babaçu.
Silvana Barbosa, presidente da rede, disse que “ganhar o prêmio é um símbolo porque é o primeiro e porque reconhece todo o trabalho que vem sendo feito pelas mulheres. Estamos felizes!”.
Todos receberam uma escultura no formato de uma esfera com seis “lados”, que representam os valores da United Earth: cada um mostra um humano conectando a fauna, a flora, o ar, a água e outros recursos naturais, todos integrados e entrelaçados.
6-Pamine – Renascer da Floresta
Desenvolvido pela comunidade indígena Paiter Suruí para devolver à floresta o que dela for retirado.
O líder indígena Almir Suruí participou da premiação e representou o povo Paiter Suruí. Ele contou que a ideia de reflorestar suas aldeias surgiu quando, “em 2000, vimos sair aproximadamente 400 caminhões de madeira de nossa terra. Decidimos que tínhamos que plantar tudo de novo!”
Foi uma forma de resgatar a dignidade da comunidade, garantindo saúde, bem-estar e sustento: ela se tornou referência e, hoje, também desenvolve ecoturismo na região e cultiva café que já recebeu prêmio.
Os premiados receberam uma escultura no formato de uma esfera com seis lados, relacionados com os valores da United Earth, cada um deles representando o homem com seus braços, conectando com a fauna, flora, ar, água, recursos naturais, e com toda a humanidade, integrados e entrelaçados em uma única peça.
Assista à cerimônia da primeira edição do Prêmio United Earth Amazonia (Nobel Verde) no Teatro Amazonas em Manaus, Brasil
Com informação da Prefeitura de Manaus