Para reduzir a poluição a venda de frutas e legumes em recipientes de plástico será proibida no comércio varejista (tanto em lojas de bairro como em supermercados) na Espanha a partir de 2023
É uma das medidas contempladas no Real Decreto sobre embalagens e resíduos que o Governo está finalizando e que o Ministério da Transição Ecológica está prestes a divulgar informações públicas, segundo fontes da secretaria. A regra também contém medidas para incentivar a venda de água a granel e não engarrafada, de acordo com El País.
A proibição do acondicionamento de frutas e legumes aplica-se aos lotes com peso inferior a um quilo e meio. É uma proibição semelhante à contida na lei antirresíduos francesa, que entrará em vigor naquele país em 2022.
Nós comemos e bebemos plástico
Dentro e fora da Espanha, várias ONGs ambientalistas, como o Greenpeace, lançam campanhas há anos sob o lema “descascar a fruta” para pressionar as pequenas empresas e os grandes supermercados a pararem de plastificar esses produtos frescos.
Julio Barea, do Greenpeace, concorda com a proibição das frutas plastificadas, mas avisa que é importante analisar “como vai ser aplicada” no final. Em relação ao restante do decreto real, esse ativista acredita que o Executivo não está agindo rápido o suficiente para “cortar radicalmente o fluxo de poluição do plástico”.
“Bebemos plástico, comemos plástico e respiramos plástico”, alerta Barea sobre os efeitos de uma contaminação que ele descreve como uma “pandemia”.
Um cartão de crédito de plástico por semana
Pesquisa realizada pela revista Environmental Science and Technology, publicada pela Sociedade Americana de Química, mostra que, desde 1960, a produção mundial de plásticos aumentou quase 10% anualmente. “Com o tempo, o plástico vai se degradando, lixiviando toxinas ambientais e pequenas partículas de 1 a 5 milímetros chamadas microplásticos.
Cerca de 39 mil a 52 mil pedaços de microplásticos podem estar na nossa dieta anual. Se incluirmos os pequenos pedaços que inalamos, esse número pode subir para 74 mil”, afirma a pesquisa.
Ainda segundo o trabalho, cerca de 8 milhões de toneladas de plásticos são despejados no oceano anualmente. Menos conhecida é a estimativa de que o ser humano ingere, em média, o equivalente a um cartão de crédito de plástico por semana, ou seja, coloca dentro do organismo cinco gramas de plástico a cada sete dias.
Os cientistas também fizeram uma lista dos países que seriam os maiores responsáveis pelo despejo desses resíduos. As 20 nações que despejam as maiores quantidades seriam responsáveis por 83% do plástico mal gerenciado que pode entrar nos oceanos.
A China ocupa o topo da lista, produzindo mais de um milhão de toneladas. Mas a equipe ressalva que é preciso levar em conta a imensa população do país e a extensão da sua costa.
Os Estados Unidos ficaram no 20º lugar da lista. O país tem uma grande área costeira, porém adota melhores práticas de descarte do lixo. Por outro lado, os EUA registram altos níveis de consumo de plástico per capita.
A União Europeia é analisada em bloco e ocupa o 18º lugar na lista.
Vilões dos mares
O Executivo espanhol busca “combater da forma mais eficaz o uso excessivo de embalagens”, detalha uma porta-voz do ministério. As mesmas fontes alertam que a poluição do plástico “já ultrapassou todos os limites” para justificar esse veto.
O engenheiro Gallego explica que o plástico é um polímero derivado do petróleo. “Portanto, sua dissolução com o tempo se torna imperceptível e acaba se transformando em microplásticos, que são altamente poluentes.
Dez por cento de todo plástico utilizado é reciclado, o restante é descartado em aterros ou irregularmente no meio ambiente.
O plástico que é lançado no meio ambiente, acaba penetrando no solo por meio da água de chuva, direcionado aos rios, e, finalmente, aos oceanos, onde já existem verdadeiras ilhas de lixo desse material”, afirma.
Segundo Gallego, as partículas de microplásticos se misturam na água e acabam sendo ingeridas por peixes e animais marinhos em geral. Além disso, podem contaminar os lençóis freáticos e acabar sendo ingeridas por humanos.
Embalagem reutilizável
Entre os objetivos gerais do decreto real da Espanha a meta é atingir uma redução de 50% na venda de garrafas plásticas para bebidas até 2030, sempre de acordo com informações prestadas pelo Governo aos principais atores do setor.
E é de assinalar que até ao final desta década se conseguirá que 100% das embalagens que são colocadas no mercado sejam recicláveis.
Na documentação enviada pelo ministério às ONGs, também são especificados objetivos para a promoção de embalagens reutilizáveis – por exemplo, as garrafas de plástico mais duras ou de vidro que podem ser utilizadas em diversas ocasiões.
No caso de hotéis, restaurantes e cafeterias, propõe-se que 50% das embalagens vendidas em 2025 sejam reutilizáveis; em 2030 deve chegar a 60%. No caso das cervejas, 80% é fixado em 2025 e 90% em 2030. E para refrigerantes as metas são 70% e 80% respectivamente.
No caso das vendas para consumo doméstico, as metas são bem menos ambiciosas: 10% das embalagens de bebidas em geral em 2025 e 20% em 2030.
No Brasil: Lei proíbe canudos de plástico
Os canudos de plástico foram banidos em oito estados do Brasil e no Distrito Federal em pouco mais de um ano, segundo levantamento feito pela Folha. O fornecimento ou venda de canudos plásticos por estabelecimentos comerciais está proibida por lei.
Além do veto ao canudo em Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo, em 17 dos 18 estados onde o artefato ainda é permitido tramita ao menos um projeto de lei no Legislativo estadual para proibi-lo.
Das 27 unidades da federação, a única onde ainda não foi localizada proposta acerca do tema é Rondônia.
A lei veda a distribuição de canudos de plásticos, além de orientar para que sejam substituídos por canudos de papel reciclável, material comestível ou biodegradável, embalados individualmente em envelopes hermeticamente fechados feitos do mesmo material.
Mudar hábitos de consumo
Para reduzir as consequências negativas, André Gallego explica que, primeiramente, é preciso mudar hábitos de consumo de objetos plásticos de uso único, como copos, talheres, canudinhos, garrafas de água e refrigerantes, sacolas e embalagens em geral.
“Devemos adotar alternativas viáveis, como ter nossa própria garrafinha de água, canudinho de metal, sacolas reutilizáveis, comprar mais alimentos a granel, sem embalagem. São ações que ajudam a diminuir o consumo de plástico. Com isso, diminuímos a geração de lixo no planeta, a emissão de gases de efeito estufa e a contaminação das águas.”
O engenheiro de produção diz que todo desastre ambiental tem um impacto muito expressivo, muitas vezes irreversível. “A natureza sempre se mostrou capaz de se reinventar, transformar e se adequar ao novo ambiente.
Porém, isso pode levar anos ou décadas. O ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) demonstra a preocupação das empresas em se posicionar em relação a esses temas. Esse é o único caminho, se as empresas quiserem crescer e prosperar em suas áreas de negócio.”